De Luísa Ducla Soares selecionamos os seguintes poemas:O Testamento do Gato
Ai, se eu um dia morrer
Não quero ser enterrado
Hei de ficar ao solinho
em cima do meu telhado
Levem-me três carapaus
E um pratito de leite
Comer bons petiscos
É o meu grande deleite
Convidem três gatas pretas
Com unhas bem afiadas
Pois mesmo depois de morto
preciso de namoradas.
Ai, se eu um dia morrer
Não me façam despedidas
Eu volto sempre de novo
Que um gato tem sete vidas.
Casamento
Casei um cigarro
Fizeram os dois
Tremenda algazarra
Porque o cigarro
Não sabe cantar
E a cigarra
Detesta fumar
Não digam que casei
( mania antipática !)
Só cumpri a lei
Que manda a gramática.
Viva o desmazelo
Viva o Desmazelo:
A roupa no chão,
Os livros na cama,
No sofá o cão,
As meias furadas,
No forno os sapatos,
Na pasta o pijama,
À mesa seis gatos,
Caderno sem folhas,
Tinta na carpete,
Espetado num bolo
Está o canivete.
Mas onde é que pus
Todo o meu dinheiro?
Ai foi pelo cano
Estava no banheiro....
De Manuel Couto Viana selecionamos o seguinte poema:
A galinha engripada
A Galinha,
coitadinha
tem sintomas graves
Não canta: está rouca,
e cobre-se de roupa.
Hora a hora, espirra
(irra),(irra),(irra).
Fala à sobreposse.
(tosse),(tosse),(tosse).
Tão doente fica
que nem depenica.
Anda o galinheiro
num grande berreiro,
temendo que ela
lhe pegue a mazela.
Médico afamado,
o Mocho é chamado
pra dar a sentença.
Todo empertigado,
diz que essa doença
é só resfriado:
nada que não vença
um xarope doce
que alivie a tosse
e a rouquidão.
- "Tome não hesite,
que traz o apetite,
pró milho e pró pão.
E coma a minhoca
que não a sufoca
Mas tenha cuidado
com o agasalho"
- disse o Mocho inchado.
E voltou ao galho.
Passaram uns dias
sem tosse e agonias,
Cacaracacá!
a Galinha já
põe ovos e canta.
Tão limpa a garganta!
A saúde é tanta
que a todos espanta.
O Mocho do galho
fez um bom trabalho.
